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Gerson SEP

Painel Tático: Entrevista com Paulo Turra

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[O texto é longo, mas interessante. Felipão encontrou um ótimo auxiliar]

Paulo Turra, auxiliar de Felipão no Palmeiras: “atualmente, o diferencial do treinador é a gestão do grupo"

Auxiliar-técnico, Paulo Turra compõe a comissão técnica de Felipão no Palmeiras. Em papo com o blog, ele explica a experiência com Scolari na China e sua visão sobre o diferencial do treinador no futebol atual

 

Felipão está de volta ao Palmeiras. O lendário treinador inicia sua terceira passagem pelo clube com um novo velho conhecido dos palmeirenses. Gaúcho de Tuparendi, Paulo Turra foi zagueiro entre 2000 e 2001. Participou da conquista da Copa dos Campeões, em 2000, e após a aposentadoria, trilhou caminho como treinador de clubes como Avaí, Brusque e Cianorte até aceitar o convite de Felipão para ser auxiliar técnico do Guangzhou Evergrande, na China.

Turra reprisará a função no Palmeiras junto a outro velho conhecido: Carlos Pracidelli. Os dois serão auxiliares técnicos, com funções mais sistêmicas e tomarão decisões em conjunto com Scolari. Em conversa com o Blog Painel Tático, ainda em maio deste ano, Turra contou um pouco de sua experiência com Felipão na China, sua visão do jogo como auxiliar e revelou a admiração por Mourinho, que acompanhou como jogador em Portugal. Leia abaixo:

Paulo, nada melhor do que começar essa conversa com um assunto muito polêmico. Há uma visão de que existem técnicos “boleiros”, que não gostam muito de estudo ou da parte tática, e “estudiosos”, que entendem muito do jogo, mas seus times são pouco competitivos. Havia o diagnóstico que o Palmeiras precisava de um pulso mais firme no vestiário nesse momento.

Treinadores buscam conhecimento. Querem aprender mais, são interessados e curiosos. Muitos mais antigos, com mais experiência, estão interessados em buscar conhecimento. Acredito que o caminho já está trilhado, e o próprio mercado já não contrata mais quem apenas confia no próprio instinto. Mas não acredito que essa seja uma mudança num estalar de dedos. É um caminho longo, que vai acontecer.

Essa questão cai na busca por conhecimento. Algo que muitas vezes é confudida com tática, afinal, a gestão de uma equipe também é conhecimento. Na sua visão, o que é conhecimento no futebol? E como se busca ele?

Conhecimento é um conjunto de coisas. É a conexão de várias informações. Se o conhecimento é difuso, logo buscá-lo é uma ação muito múltipla. Cursos são fundamentais. Temos no Brasil o curso da CBF, que é muito criativo e acrescenta bastante na parte tática e técnica. É um curso chancelado pela FIFA e Comenbol. Fiz todos os níveis dele e também outros, fora da CBF. Outra atividade é ver jogos. Tanto os pela TV como no campo, onde o ângulo maior dá a possibilidade de ver situações como recomposição e transições. Ler também, sobre tática e futebol. Pena que aqui no Brasil temos uma literatura muito pequena. Debatemos isso no curso - não temos quase nada, enquanto que em Portugal temos vários livros. É um processo de acompanhamento.

Você foi campeão pelo Palmeiras e hoje volta como auxiliar técnico de sucesso na comissão do Luiz Felipe Scolari. Em 2017, vocês tiveram a chance de trabalhar juntos, incluindo treinar o time em jogos nos quais Felipão foi suspenso. Como foi essa experiência que você reprisa no clube paulista?

A experiência com o Felipão e o Murtosa na China foi muito rica. Fiz um estágio com eles no Palmeiras, em 2011. Em 2017, na China, aprendi muito a lidar com o atleta individualmente. Felipão tem um tino muito grande em saber em quando falar com um atleta na frente do grupo ou individualmente. Ele consegue, num olhar, passar uma mensagem ao jogador. Após o treino, ele também consegue passar recados, inclusive táticos, com precisão. Muitas vezes, ele sabe que o time jogou mal, mas se a cobrança for forte naquele momento, o efeito será muito ruim. O gerenciamento de grupo é muito importante.

Você fala de livros. Quais os livros que mais te acrescentaram, como jogador, auxiliar e técnico? Não apenas na parte tática, mas também na parte da liderança e de outros aspectos do futebol.

Sou fã dos livros do Mourinho. Quando jogava em Portugal, ele tinha despontado pelo futebol e o Porto, campeão da Liga dos Campeões, foi muito dissecado. Também leio livros sobre liderança. Tem uma coisa legal sobre livros: eles não são manuais. Não dissecam a forma da equipe jogar, os processos que ele fez para chegar naquilo. Livros são conhecimento, e sempre procuro estar antenado em alguma leitura.

Você cita o Mourinho. Você jogou em Portugal, no Boavista e Vitória de Guimarães, no momento em José Mourinho despontou para o futebol e ganhou uma Liga dos Campeões. Ele é uma influência para sua carreira?

Com certeza. Tem o futebol antes e depois de Mourinho. Como jogador, víamos que suas equipes eram diferentes. A principal questão é a intensidade. Enfrentei o União, e era uma equipe que marcava com muita intensidade, pressionando a saída de bola. Ele foi um dos primeiros a trabalhar em cima do adversário. Vou te dar um exemplo que era comentado entre jogadores naquela época: na final da Liga dos Campeões em 2002, ele entregou para cada jogador um DVD com as ações ofensivas e defensivas do Monaco, adversário do Porto na final. Hoje isso é comum em todos os clubes do mundo, mas naquela época, era muito estranho voltar de um treino e ver jogos…

E tem também os métodos de treinamento, né?

Os métodos de treinamento, pelo que falávamos com os jogadores, eram diferentes de tudo. Tem uma entrevista do Mourinho para a BBC, em 2000, se não me engano, que ele fala que hoje o conceito de treino é muito difundido. Qualquer um dá um treino. A diferença é dar um treino com base no que sua equipe precisa. É analisar erros e acertos e colocar, no treino, um conteúdo pensando no seu time. Os treinos são até mais importantes que os jogos.

O próprio papel do analista de desempenho é a produção desse material…qualquer comissão entende essa forma de trabalho. Ou seja: não é um diferencial. Pula 2018, 15 anos depois da sua experiência como jogador. O que você observa que hoje seja um diferencial no trabalho do dia-a-dia de um treinador e sua comissão?

Acredito que hoje temos meios mais difundidos de conhecimento e pesquisa. Hoje entregamos as ações e estratégias do adversário por WhatsApp, para o jogador ver. Qualquer um tem acesso a dados estatísticos, táticos e técnicos do seu próprio time e do adversário. Por isso vivemos numa era onde a gestão de grupo é um diferencial. O clube mais campeão nos últimos anos é o Real Madrid. Tome o Zidane como exemplo. Ele tem um conhecimento muito grande do seu grupo. E isso não é apenas entender o psicológico do indivíduo, mas sim saber o tipo de treino a ser dado para cada grupo. O treino que tu aplica num time menor não é o mesmo de um grupo com Sergio Ramos, Benzema e Cristiano Ronaldo.

E na questão de campo? Qual é o diferencial do treinador hoje?

Sensibilidade. Não trabalhar muito volume, mas sim intensidade. Hoje é possível ter treinos de 15 minutos com uma intensidade muito grande. Hoje, o volume de treino - ou seja, trabalhos de uma, duas horas - afetam no desempenho no jogo. É melhor treinos curtos, de 20 minutos no máximo, mas com muita intensidade, que copiem o que o time vai encarar no jogo. Além disso, o recurso do vídeo hoje é fundamental. Willian deu uma entrevista que fala que Mourinho dá um trabalho tático através de vídeos. O padrão tático e de entrosamento do time é tão grande que Mourinho muitas vezes reunia numa sala e passava padrões do time. É um método fácil de otimizar o tempo.

Paulo, li um texto muito bom que diz que vivemos na era da informação. Tudo é analisado o tempo todo, dando vazão a uma série de conclusões que nem sempre são reais. Logo, ser inteligente não é saber muito, mas sim saber o que importa. Você acredita que isso se aplica no futebol?

Sim, com certeza. Falei do Felipão muito na entrelinha, mas na prática, ele organiza muito bem os treinamentos. Quando cheguei na China, eles me deram total autonomia para dar ideias de novos treinos. Tínhamos uma reunião semanal para passar ideias sobre a equipe. Me senti muito liberto para dar ideias para o time, e o Felipe sempre me ouvia. Tive a oportunidade de comandar muitos treinos no Guanghzou, com Felipe e Murtosa participando e dando sugestões. A principal cobrança do Felipe durante os trabalhos é não treinar por treinar, mas encarar com seriedade e intensidade aquele momento.

Você mencionou sua liderança como jogador. Poucos sabem que você foi o capitão do primeiro título do Tite, com o Caxias, no Campeonato Gaúcho de 2000. O que você traz de aprendizado daquele curto período com o atual treinador da seleção brasileira?

O grande mérito do Tite naquele momento foi comprar a briga em um clube com três meses de salário atrasados. Queríamos apenas ganhar, nada mais. Na parte tática, o Tite tem o diálogo como ponto forte. Ele aceita ideias, dialoga com o grupo. Um exemplo: em 2000, ele colocou um quadro negro numa mesa numa salinha pequena, destinada ao treinador. Chamava os 11 que iriam para o jogo e os líderes do grupo. E aí começava a conversar com a gente, perguntava o que achava, o que dava para mudar…isso faz com que o jogador se sinta instigado a procurar conhecimento, a conhecer mais e também dá responsabilidade a quem joga.

Fonte: Globoesporte

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Pela entrevista o que conclui é que o Roger Machado é quase um Paulo Turra, kkkkk.

Mas, sério, a diferença é que o ex-treinador do Palmeiras pensa já ser um técnico completo e apto para dirigir qualquer clube do Brasil, enquanto que o auxiliar do Felipão segue seu papel de aprendiz, absorvendo mais conhecimento do mestre que escolheu seguir, antes de iniciar seus próprios passos.

Obs.: que judiação essa diretoria trapalhona ter esperado passar a copa para demitir o estagiário.

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Li isso hoje, achei muito interessante. Um #*&! contraponto à última passagem do Scolari por aqui, quando centralizava a maioria das decisões e perdia dias de trabalho dando treino de fundamentos à la escolinha de sub-12 pra Vinícius e Patrik da vida. Hoje, mais que nunca, treinar bem é analisar o desempenho do atleta em situações que simulem ao máximo aquilo que ele irá enfrentar no jogo.

E por sinal, isso dá uma boa facilitada na gestão do grupo. Em linhas gerais, maioria dos jogadores que atuam no futebol daqui fica de saco cheio com treinador fungando no cangote do começo ao fim do treino, de modo que essa participação dos auxiliares dá uma aliviada pro chefe na hora de passar uma instrução ou ter uma conversa em particular.

Bem, vejamos. Pelo que tenho lido internet afora, trabalho do Turra vinha sendo bastante elogiado pelos chinas e pelo próprio Felipão. 

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Parece ser um cara instruido, ciente do seu lugar. Gostei da entrevista e também é bom saber que tem alguem atento buscando conhecimento e atualização no comando.


E achei interessante esse método do Tite, citado na última pergunta. É uma forma também de explorar as lideranças e aproximar mais o grupo da comissão técnica. Equilibrar isso junto com respeito a hierarquia é um challenge possível.

 

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Parece que está absorvendo muitas idéias, mas não vai ter peso e pressão de técnico, certo é ele de aprender o bastante para quem sabe num futuro alçar vôos maiores, que nos dê o suporte necessário junto com o Felipão

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Muita gente do meio do futebol me disseram que quando o Renato Gaúcho chegou no Grêmio, quem comandou o planejamento de treinamentos e o modelo tático foi o Espinoza. Que manja muito de futebol, mas nunca se consagrou como treinador exatamente pq teoria é teoria e prática é prática. Então, o Espinoza cuidou da parte teórica e o Renato tocou o grupo no dia a dia, como a parte técnica e o controle do vestiário.

Quem sabe isso não ocorra no Palmeiras com Felipão.

Tomara.

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Uma coisa que gostei na entrevista do Turra é a referência ao Mourinho, acho que para um estilo de jogo defensivo um cara como o português é uma baita referência.

Só vai precisar transferir essa idéia toda para dentro do campo, que o Jair também falava de Simeone, Mourinho e no fim entre a ideia e a pratica ficou um abismo gigante. Entrevistas são sempre boas, mas to ansioso para ver o trabalho dessa comissão técnica dentro do campo.

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uma coisa interessante foi ele falar em métodos de treinamentos "O treino que tu aplica num time menor não é o mesmo de um grupo com Sergio Ramos, Benzema e Cristiano Ronaldo." aqui o cara pode colocar e pedir para o cara realizar o trabalho, devido a qualidade dos jogadores eles fazem poucas vezes e pronto, agora veja o felipão ensinado patrick, tinga e vinicius a cruzar... me Deus, o zidane nunca precisou ensinar isso, simplesmente falava para o jogador o que queria e pela qualidade do elenco era feito com "muita qualidade".

Outro coisa, tática e técnica aprende, mas precisa saber como aplicar e de que forma, cada grupo é uma forma diferente, não é pq fala 4-3-3 que vai colocar o cara e pronto, isso o tapado do roger nunca viu e ai vc percebe ser bem burrozinho...  

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Hoje o Turra já mostrou como funciona a equipe do Felipão.

O Turra faz tudo o que os "técnicos estudiosos" fazem. Trabalha compactação, ataque em bloco, etc etc.

O Felipão faz todo o resto que esses técnicos não sabem fazer rs

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7 minutos atrás, Gerson SEP disse:

Hoje o Turra já mostrou como funciona a equipe do Felipão.

O Turra faz tudo o que os "técnicos estudiosos" fazem. Trabalha compactação, ataque em bloco, etc etc.

O Felipão faz todo o resto que esses técnicos não sabem fazer rs

Exatamente. 

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