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Luiz Gonzaga

Um tremendo zagueiro em nossa história

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Um dos maiores zagueiros que vi jogar. Palmeirense, mesmo, com uma passagem grandiosa no clube.

 

Luiz Gonzaga.

 

Você não sabe quem ele é

Antônio Carlos Zago fala das brigas dos tempos de atleta e de como é comandar o time que pode desafiar grandes

RICARDO PERRONE E VANDERLEI LIMA DO UOL, EM SÃO PAULO

 

Antônio Carlos Zago brigou com quase todo mundo nos tempos em que usava a camisa 3. Mas diz que essa não era sua essência. "Dentro de campo eu cometi alguns erros que talvez não deveria ter cometido, mas tantos outros jogadores também cometeram alguns erros ali dentro de campo..." É uma coisa repentina que você se arrepende um segundo depois. Não tem um jogador de futebol que não se arrependa de coisas erradas que se faz dentro de campo".

"Às vezes, de colocar a mão na bola você já se arrepende e, principalmente, de coisas assim [as brigas]. Não sou o único a ter feito isso. O importante é o que eu sou na minha vida particular e aquilo que eu tô podendo construir na minha vida nonovamente."

Agora, Zago e o UOL vão narrar essa reconstrução que ajudou a transformar um zagueiro técnico de temperamento explosivo no treinador que levou o Bragantino, já controlado pela Red Bull, ao título da Série B do Brasileirão —e que sobe de divisão com apetite para incomodar os grandes na elite em 2020.

 

Uma cotovelada custou a Copa do Mundo

Antônio Carlos foi um dos zagueiros mais habilidosos de sua geração, conquistou títulos pelos quatro grandes clubes de São Paulo e venceu o Campeonato Italiano pela Roma. Mesmo assim, nunca disputou uma Copa do Mundo. Como explicar essa lacuna em sua carreira?

Para pelo menos uma das ausências, nos Estados Unidos, o ex-jogador tem uma resposta na ponta da língua. "Na Copa de 94, tive uma fratura no rosto. No dia da morte do Ayrton Senna, 1º de maio de 1994. Foi um jogo contra o São Paulo. Acabei levando um murro do Válber, que foi um #*&! de um zagueiro também. Talvez eu teria ido para a Copa de 94", arrisca.

A confusão começou num lance que Zago considera de jogo, normal. "Se eu não me engano, numa bola, ele passou, eu abri os braços, dei uma cotovelada. Eu não lembro, e acabou pegando na boca dele. Ele tinha uma ponte, quebrou e caiu no chão. Foi aí que ele ficou maluco". O bicho pegou pouco depois: "Na hora que eu fui para o escanteio, o Mazinho bateu, ele saiu da bola, o Maurílio fez o gol e (Válber) veio e me deu um murro".

Antônio Carlos só percebeu a potência do golpe desferido pelo adversário quando comemorava. "Eu falei: 'os caras vão me pegar aqui'. Saí correndo e fui abraçar o Mazinho. Na hora que o Mazinho me olhou: '#*&!, o que foi aí?'. Eu falei: 'por quê?'. Ele falou: 'tá fundo o teu rosto'. No que eu eu fiz assim (passando a mão na face) já tinha quebrado tudo por dentro. Eu aguentei até o final do jogo, faltavam dez minutos também, pra ver se eu ia pegar o Válber, pra ver se iria aparecer alguma oportunidade. Não apareceu".

A fratura obrigou Zago a passar por uma operação e tomar sopa com canudinho por 20 dias. Quando se recuperou, ele foi a uma churrascaria, deu de cara com Válber, pediu desculpas caso tivesse feito algo e decretou que tudo ficaria no campo. Nunca mais se viram.

 

Panelinhas e tretas no Palmeiras

Na era Parmalat, na década de 1990, o alviverde dava voltas olímpicas no gramado carregando troféus, mas seus jogadores se estapeavam nos vestiários. Zago, que atuou pelo clube entre 1993 e 1995, lembra daquele elenco como um grupo esfacelado fora de campo, mas unido dentro dele.

"No Palmeiras, naquela época, a gente tinha quatro, cinco grupinhos, mas o importante é que quando chegava em campo, o Edmundo apanhava lá na frente, eu batia no cara ali atrás. A gente se doía um pelo outro. Não sei se vocês lembram de um episódio. Em um jogo contra o São Paulo, ele [Edmundo] deu um murro no André Luiz e eu fui o primeiro a pegar o Edmundo e tirar ele pro vestiário, senão os caras iam pegar ele mesmo dentro de campo ".

"De vez em quando, saía [porrada]. O Evair com o Edmundo, eu com o Edmundo, alguns empurrões. O Edílson... nossa, saía. Sempre alguma coisa tinha. É difícil você ver uma equipe como aquela, que, quando entrava em campo, esquecia tudo. Tinha um negócio entre o Evair e o Edmundo ali na frente, que um, às vezes, não queria passar a bola pro outro, ou fazia de conta que não via e chutava no gol. Aí tinha reclamação, mas do resto era um time fantástico".

No meio do fogo cruzado entre seus jogadores, ficava Vanderlei Luxemburgo. "O Vanderlei sabia conduzir bem isso aí", relembra Zago. Tantas eram as tretas que uma das mais marcantes para o ex-zagueiro envolve Luxa de forma hilária. "Teve uma, no Morumbi, minha e do Edmundo. A gente chegou no vestiário, se empurrou, um deu um soco, o outro deu um soco e aí chegou a turma do deixa disso. Aí, o Vanderlei: 'Não, solta os caras'".

No momento, entrou um dos integrantes da comissão técnica na briga. "Nós tínhamos o Zé Mário, o preparador de goleiro: 'Pô, Vanderlei'. Aí, os dois começaram a discutir entre eles e a gente teve que entrar e separar os dois. Aquele dia, que eu lembro, teve a maior bagunça dentro do vestiário. Mas fora de campo a gente se respeitava muito. Tanto é que é um clube que marcou uma história sendo bicampeão paulista e bicampeão brasileiro".

 

"Edmundo era um filho da #*&!. Hoje é meu amigo"

Se em 90 minutos, diante de adversários, o pavio curto de Antônio Carlos provocava explosões de grandes proporções, imagine convivendo diariamente com um companheiro tão estável quanto uma bomba-relógio. Foi o que aconteceu no campeoníssimo Palmeiras da era Parmalat, nos anos 1990. Ele e Edmundo viviam como gato e rato nos vestiários.

"Bem evangélicos éramos nós dois, viu. O Edmundo é uma personalidade, um caráter. Como o meu também. No grupo, no dia a dia. O futebol foi a minha saída, como foi a saída para o Edmundo também. O futebol foi a única saída e a gente brigava por espaço. Não só eu com ele, mas também tinha Roberto Carlos, Edílson..."

De tanto se enroscarem, os dois ficaram anos sem se falar. A amizade só começou quando atuavam na Itália. E a admiração do pai de Zago, seu Carlos, por Edmundo ajudou a quebrar o gelo. "Com o passar do tempo, a gente vai ficando mais velho, vai ficando mais experiente, a gente vai relevando alguma coisa. Eu fiquei, praticamente, seis, sete anos sem falar com o Edmundo". Tudo mudou em duelo Roma x Fiorentina.

"Meu pai era fã do Edmundo, apaixonado pelo Edmundo. Meu pai ficava: 'pô, vocês não conversam'. Eu falava: 'pai, é um filho da #*&!. Deixa ele pra lá'. Mas o meu pai era fanático. Ele via o Edmundo e dava pra ver que ele se transformava. Nem para mim ele olhava com aqueles olhos que ele olhava para o Edmundo. Aí, foi um jogo no Olímpico. O Edmundo do lado da Fiorentina, eu do lado da Roma. Na Itália, naquela época, entrava junto. Eu nem olhei na cara dele, ele nem olhou na minha. Terminou o primeiro tempo, eu venho saindo de lá, ele vem daqui. Aí, deu certo que a gente foi chegando perto, um olhou pro outro, deu uma risadinha e demos um abraço. Conversamos depois do jogo. Eu acabei indo pra Florença."

Quando jogava no Napoli, Edmundo retribuiu a admiração do pai de Zago sendo seu anfitrião. "Hospedou o meu pai na casa dele, em Nápoles, em um jogo que nós jogamos contra o Napoli, em Nápoles. Meu pai foi pra lá dois dias antes e aí ficou lá na casa do Edmundo. Nós fomos, jogamos no domingo, saímos pra jantar e ali cresceu um #*&! de um relacionamento que eu tenho com ele".

 

A cusparada em Simeone

A lista de ex-desafetos de Zago inclui um dos maiores treinadores do mundo. O argentino Diego Simeone, hoje técnico do Atlético de Madri, também tinha um temperamento difícil nos tempos de jogador. Ele e Zago foram os protagonistas de um clássico entre Roma, clube que o brasileiro defendia, e Lazio em 1999.

"A discussão não era nem comigo, era com o Marcos Assunção. Se você pegar o vídeo do jogo direitinho, tá ele brigando com o Marcos Assunção e eu chego no meio dos dois. Ele fala umas coisas pro Assunção e aí eu comecei a discutir. Foi, foi, foi, dei-lhe uma cuspida na cara. Passou tudo na televisão e eu fui julgado. O advogado chegou pra mim e falou: 'Você tem que dar um jeito de falar que foi saliva que saiu da tua boca'. Eu falei: 'Como é que eu vou falar isso aí? Não tem como falar. Eu sei que eu fui me defender no dia do julgamento, mas gaguejei pra caramba. Levei quatro jogos".

O ex-zagueiro coloca o episódio em sua coleção de arrependimentos. Como consolo, tem o fato de ter sido absolvido pela mulher de Simeone. "Eu sempre gostei de filme e toda sexta-feira, na Itália, eu ia no cinema com a minha família. Nesse dia, eu cheguei atrasado e falei pra minha esposa: 'Vai lá comprar as entradas que eu vou comprar a pipoca junto com as crianças'. A hora que eu viro para o lado, Diego Simeone. Eu olhei e do outro lado estava a mulher dele. Eu falei: 'Eu não quero falar nada com você. Eu quero falar com a tua esposa'".

"Eu falei: 'Olha, você me desculpa por tudo aquilo que eu fiz, pelo gesto. Se você quiser, eu ajoelho aqui, agora'. Ela falou: 'Eu conheço você um pouco e eu conheço mais ainda o meu marido. Se você não tivesse feito aquilo nele, ele teria feito em você. Então, pode ficar tranquilo que não tem nada'".

 

Estudo e promessa de voltar ao Palmeiras

Em 2008, Zago tinha a possibilidade de jogar mais uma temporada pelo Santos. Planejava se aposentar na Vila Belmiro, estudar e tirar licenças de treinador na Europa. Porém, atendeu a um inesperado pedido do amigo Andrés Sanchez para ser dirigente remunerado do Corinthians.

Antes de virar jogador profissional, Zago ralou num depósito de verduras no Mato Grosso do Sul carregando caixas com os produtos. Acordava às 3h para descarregar caminhão. Para se divertir, jogava na várzea. Depois, morou dois anos em Campinas, onde trabalhou com seu pai no Ceasa. Nessa época, virou amigo de Andrés.

"Eu conheci o Andrés quando ele vendia plástico e eu carregava caixa no Ceasa, em Campinas. O Andrés quando ele vendia plástico e eu carregava caixa no Ceasa, em Campinas. O Andrés foi um dos primeiros a me incentivar a conciliar o trabalho com o futebol. Teve uma época que eu vinha treinar no Corinthians. O Andrés tinha um tio que era diretor da base, chamava Zé Maria. Eu cheguei a fazer um teste. Não fiquei porque o treinador falou que eu era muito magro e acabou me descartando", lembra.

Como ser cartola não era sua intenção, a carreira de dirigente foi breve. Em 2009, já estava treinando o São Caetano e, em 2010, deu o grande salto, assumindo o Palmeiras. Viajando no tempo, diz que não deveria ter aceitado o convite. "Se fosse hoje, não teria aceitado. Até pelo momento que vivia o clube e pela pouca experiência que eu tinha naquela oportunidade. Tudo é aprendizado, tudo é lição de vida. Você tem que ir sempre procurando tirar as coisas boas e foi isso que eu fiz a minha vida inteira".

Os desvios de rota fizeram com que o ex-zagueiro só participasse dos cursos na Europa que tinha planejado fazer por volta de 2012 e 2013. Ele tem as licenças exigidas pela UEFA e, na entrevista, contou que pretendia começar a fazer os cursos da CBF neste mês -as aulas começaram na semana passada. O objetivo é obter a licença para trabalhar como treinador também no Brasil.

 

Nota da redação: na negociação da entrevista, Antônio Carlos disse que não falaria sobre os incidentes envolvendo Ronaldo Fenômeno e o Corinthians, que culminaram na sua saída do clube.

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