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Guest Fabricio MG

'Nossa ambição é sermos campeões de tudo' entrevista longa do Moisés.

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Guest Fabricio MG

Ao DIÁRIO, meia falou sobre ansiedade para voltar, trabalho de Eduardo Baptista, sonho de seleção...

 

Moisés entrou na Academia de Futebol do Palmeiras, em 2016, como um desconhecido. Aposta para muitos, o meia começou 2017 sob o título de melhor jogador do Campeonato Brasileiro e com a taça nos braços. Contudo, o ano com um roteiro de superação se repete agora.

 

Como no passado, uma grave lesão o fez parar por meses. Em recuperação após romper dois ligamentos do joelho esquerdo, o novo camisa 10 Alviverde (número herdado de Cleiton Xavier) põe metas ousadas para a temporada.

 

"A nossa ambição é sermos campeões de tudo. Sabemos que é difícil. Se um time como o Palmeiras passar um ano sem títulos, terá cobrança. Tem de pensar por outro lado: temos um time que pode fazer história", crava Moisés.

 

O trabalho aumenta quando o jogador se lesiona?

 

MOISÉS_ Sim. Você fica quase o dia todo no CT. Chego às 9h e saio às 17h. Normalmente, é só na hora do treino, um período.

 

Em qual estágio está hoje?

 

O de começar a dobrar o joelho, brigar para dobrá-lo. Larguei as muletas e comecei a andar sozinho, mas precisa voltar a ter a flexão. É dolorido, sofro bastante. É quase insuportável, mas tem de suportar. Tenho de aguentar firmemente para voltar o quanto antes.

 

É mais difícil suportar a dor ou manter a cabeça bem?

 

São duas circunstâncias diferentes. Quando eu me machuquei, o meu choro e o meu desespero não foram pela dor, em si, foram por pensar em ficar seis meses fora, perder jogos importantes. É uma dor profissional. A que estou enfrentando, a física, dói muito, mas tem de aguentar. Vou passar por isso e logo, logo estou de volta.

 

 

Você se lesionou em 2016. Pensou: “Puxa, de novo?”

 

Só veio isso na cabeça. Pô, de novo? Há uma semana da Libertadores, uma competição que não disputei... Passou muita coisa na cabeça. Ano promissor, ganhei a camisa 10, renovei... Tinha tudo para ser um ano bom, e começou dessa forma. Mas nem por isso vai deixar de ser bom. Vou trabalhar e me esforçar para voltar e terminar o ano em alto nível.

O ano passado é exemplo?

 

É uma forma de me motivar, pensando que sou o exemplo de que é possível voltar. Claro, tudo depende da ajuda dos meus companheiros. No ano passado, fui um jogador importante no campeonato porque o grupo todo foi muito bem e me ajudou. E se apegar às coisas boas, como a família. O apoio deles é grande.

 

Como é a ajuda no dia a dia?

 

É o mais importante. A recuperação é difícil, você sente dor, mas a principal parte é a psicológica. Se não estiver forte psicologicamente, as coisas não caminham bem. Todo momento em que a minha esposa me vê cabisbaixo, chega e fala: “Levanta a cabeça. Logo você estará de volta, jogará bem”. Sem contar os meus filhos... Quando chego em casa, brincam comigo... Às vezes, a minha filha diz que está triste e responde que é porque o moço pisou em mim e não estou jogando. Família se abate junto.

 

Serão seis meses e, dentro disso, tem escala de recuperação. Quais as próximas fases?

 

Não gosto de pensar a longo prazo. Vou pondo etapas curtas para me motivar dentro da recuperação. Se parar para pensar em cinco meses, é muito. Cada dia de fisioterapia é um treino no qual você tem de se esforçar ao máximo. Tem treino de segunda até sábado, e faço como se fosse jogo. No sábado, tenho de estar em melhor estado do que na segunda-feira. Preciso me provar nessa evolução e tiramos a margem. Na semana seguinte, começa de novo.

 

O Fernando Prass diz que a torcida pensa que quem se machuca tem tempo livre...

 

É, mas o lado do jogador ninguém vê. Não temos de cobrar. É óbvio que as pessoas só veem o lado bom e só querem o lado bom. Ninguém quis saber que eu, com 15, 16 anos, estava fora de casa, não tinha o que comer e não podia falar para os meus pais. Mas, quando estou em um clube grande, ganhando um bom salário, falam que a vida é fácil. Isso é normal.

 

Onde aconteceu?

 

Foi quando fiz a base, nos interiores da vida... E você não pode contar todas as tristezas e tudo o que enfrenta para os pais, senão, eles não vão te deixar ali. Tem de sofrer calado. E agora é assim, também. Na recuperação, sofro e falo para os meus pais e a minha esposa a dor da fisioterapia, mas não a real dor, o que realmente sinto.

 

 

 

Você tem pouco mais de um ano de Palmeiras. Imaginava conquistar o que conseguiu?

 

Não posso dizer que imaginava, não. Da forma que foi, num curto período... Se parar para pensar, fiz um ano e pouco, sendo cinco meses lesionado. Agradeço àqueles que estão do meu lado, família, esposa (Sônia), filhos (Anna Luiza e Lucca), mãe (Jacilene), pai (Ricardo), irmão (Matheus), os mais próximos... Mas eu me estendo aos amigos. Esse apoio dentro de casa ajuda a trabalhar e a conquistar coisas grandes.

 

Do time campeão brasileiro, o meio de campo se destacou. Qual marca fica disso?

 

O futebol bem jogado. Tínhamos um entrosamento muito grande. Quando jogavam o Thiago Santos ou o Cleiton Xavier, mudavam as características, mas o entrosamento e o conhecimento de um com o outro eram grandes. Fazíamos as coisas sem ver, já sabíamos o que o outro faria, onde estaria. Facilitou bastante. Isso demonstra que um futebol bem jogado, com bola no chão, com quem participa ofensivamente e defensivamente, se sobressai.

 

E os críticos do “Cucabol”?

 

É só olhar hoje quantos times fazem aquilo. Será que vão criticar todos? O Botafogo até fez gol assim na Libertadores. Outros vêm fazendo a jogada. Em vez de retrucar, o importante é o futebol evoluir, desde que não faça nada que prejudique.

 

O futebol é tão dinâmico e todos veem tudo que, se você não criar coisas novas, fica para trás. Não criamos a jogada, já existia no Atlético-MG. Com treinamento, fizemos bem. Por isso saíram tantos gols.

 

Tanto é que o Dudu está na seleção, você e o Tchê Tchê foram cotados, o Prass...

 

Além da grande qualidade dos jogadores, um time campeão vai ter jogadores lembrados. Foi um dos motivos de, na hora da lesão, eu ter ficado chateado. A seleção era um objetivo neste ano. Claro, ainda não acabou, tenho metade do ano para percorrer. Dificulta um pouco mais, mas não se torna impossível, desde que eu volte bem. Pode acontecer.

 

Foi até mais frustrante por pensar na Copa da Rússia?

 

A Copa era um obetivo meu. Para se chegar a um Mundial, tem de disputar as Eliminatórias. Dificilmente um jogador vai sem ter jogado a Eliminatória. Foi um momento de tristeza, mas é momentânea, de um, dois dias. Logo em seguida, se põe a cabeça no lugar, pensa para a frente. Deus sabe por que eu me machuquei, tem um propósito. Vou ter meio ano em 2017, espero fazer o melhor. Se for da vontade Dele e de quem dirige a seleção, serei chamado.

 

Como você se define: volante, meia ou meio-campista?

 

Meio-campista. Jogo nas duas funções, então, a palavra que define é meio-campista. Hoje em dia, o futebol mudou bastante. Quase todos os jogadores vêm fazendo isso. Aqueles que não conseguirem desempenhar as duas funções vão começar a ficar para trás.

Tem alguém de fora em quem você se espelha?

 

Gosto muito de ver o Iniesta jogar. Ele e o Modric... São jogadores que têm uma dinâmica de jogo, ofensiva e defensiva, muito importante, e é bonito de assistir. O Rakitic também.

 

Ele e o Modric são da Croácia, um país onde você jogou. O que aprendeu por lá?

 

Leitura de jogo, dinâmica. Taticamente, se evolui muito. Tecnicamente, nós, brasileiros, temos uma qualidade muito grande. É da nossa natureza. Mas, taticamente, de funções, você evolui em um nível absurdo. Aprende a jogar com e sem a bola. Principalmente sem, que é o período maior no qual você fica em campo.

 

Estamos nos aprimorando?

 

Se não mudarmos, vamos continuar para trás. Deu uma evoluída, mas precisamos de mais. Não só jogadores, mas em geral. Desde quem dirige, treina... Não adianta achar que temos os melhores jogadores, que o Brasil é o futebol arte. O esporte evoluiu, as coisas mudaram. Se não entender e não procurar evoluir, fica para trás mesmo. Vejo um suspiro de mudança.

Um passo para isso foi a troca do Dunga pelo Tite?

 

É difícil falar sobre treinador com quem não trabalhei, como Dunga e Tite. Acompanhamos de longe, mas não tem como comparar a diferença do time, que evoluiu bastante. O Tite fez alguma coisa diferente. É todo um sistema. Sabemos que tem treinador que quer fazer algo e sabemos que o jogador brasileiro é acomodado. Falam que sempre fomos assim. Não é desse jeito, tem de mudar.

 

Muito se falou de uma geração ruim após o 7 a 1. Quais meio-campistas destaca?

 

O Casemiro é um exemplo real de mudança. Eu me lembro de ter enfrentado ele no São Paulo. Surgiu com um grande potencial, mas chegou um tempo em que parou. Foi para o time B do Real Madrid, começou a jogar, foi para o Porto... Agora, está fazendo uma grande campanha e é exemplo de que, quando o cara quer, se concentra, procura evoluir, vai conseguir. Hoje, é uma referência no futebol internacional.

 

Na base, ele era camisa 10 e, agora, é primeiro volante...

 

E vai falar: “Não sei marcar”? Pode não ter isso dentro de si, mas pode aprimorar. Não precisa ser especialista. Nunca vou marcar como o Thiago Santos, mas posso evoluir. Se roubo duas bolas, posso roubar quatro.

 

Como vocês encararam as críticas ao Eduardo Baptista?

 

Eram injustas. Mas achei legal por parte da imprensa. Foi a primeira vez em que vi quase 100% da imprensa defender o Eduardo. Vai haver pressão, é natural quando sai um treinador campeão e o time volta e não joga como antes. O torcedor é paixão, temos de entender. Tem de acontecer como no Palmeiras: a diretoria entender que o torcedor é apaixonado, vai gritar, mas ter a cabeça no lugar e saber que fez a escolha certa com convicção.

 

Ouviram algo sobre uma possível demissão dele?

 

Em momento algum houve zum-zum-zum de que o Eduardo iria cair. Alguns jogadores chegaram e conversaram com ele, como eu fiz, dizendo para ter calma, que iríamos ajudar. E hoje ele está fazendo um grande trabalho e a cabeça do torcedor está mudando. É normal vaiar em um ou outro jogo, mas não só no Palmeiras, isso é uma coisa geral.

 

Até pela conquista do ano passado, o Cuca sempre será um fantasma no clube?

 

O Cuca é um excelente treinador. Disso, ninguém tem dúvida. Tanto é que o Palmeiras tentou renovar, mas ele tinha outras situações. Nós não temos dúvida de que o torcedor palmeirense vai querer vê-lo de volta. Mas eles têm de entender o momento. Ninguém sabe nem se o Cuca quer voltar. Vai mandar o Eduardo embora e quem vai vir? E se o Cuca não quiser voltar? Por isso tem de ter tranquilidade. É normal o Cuca ser lembrado, até tem de ser, pela campanha que fez, um trabalho excelente. Esperamos que um dia ele volte, mas é o momento do Eduardo, tem de respeitar isso. Ele está fazendo um grande trabalho.

 

Vocês, jogadores, tentaram convencê-lo a ficar?

 

Não. Antes do título, não se falava de outra coisa que não fosse buscar o campeonato. O nosso foco era a taça. Logo após o título, até na comemoração, em cima do trio elétrico, foi pedido para que ele ficasse, mas ele optou por sair. Ele tinha situações particulares e nós não podemos crucificar.

 

O Palmeiras tem a certeza de ser campeão neste ano?

 

Por tudo o que se criou, pelo planejamento do Palmeiras, carregamos essa pressão de títulos. Todos pensam nisso. Se parar para pensar: “Ah, vai começar o ano. Qual time vai ser campeão?” Vão falar que o Palmeiras vai ser campeão. Não tem como afirmar em qual torneio, mas de alguma coisa vai ser. Pelo elenco, pela estrutura que tem.. Todo mundo que entende de futebol pensa isso.

 

Internamente, existe a conversa de buscar todos os títulos que forem disputados?

 

Claro. A nossa ambição é sermos campeões de tudo. Sabemos que é difícil. Com o calendário que se tem, para você ganhar tudo... Chega um momento em que se tem de priorizar um campeonato ou outro. Pelo elenco, mesmo dividindo situações, o Palmeiras consegue colocar um time fortíssimo dentro de campo. Por isso, essa ambição, sabendo da dificuldade de ganhar todos, que é quase impossível... Mas o objetivo é ganhar o máximo.

 

Já jogou em times para não cair e, agora, com obrigação de títulos. Qual pressão é maior?

 

Depende do elenco. Na época de América-MG e Portuguesa, existia uma dificuldade grande, mas, se caísse, não tinha como crucificar o trabalho. O jogador é o resultado final do que vai acontecer. É mais difícil quando você chegar no auge e tem de manter o nível. Se um time como o Palmeiras passar um ano sem títulos, terá cobrança. Tem de pensar por outro lado: temos um time que pode fazer história. Basta focarmos no dia a dia que as coisas vão acontecer. Dificilmente, nós, trabalhando corretamente, passaremos um ano em branco.

 

Você estava no elenco da Portuguesa rebaixado no tapetão, em 2013. Como vê a atual situação do clube?

 

Participei da campanha e saí em janeiro, quando o time já havia sido rebaixado. Bateu uma tristeza muito grande. Inclusive, no ano passado, estive na Portuguesa para conversar com algumas pessoas... Foge da nossa alçada, é coisa de gente grande. Tenho certeza de que algo de errado houve, não foi simplesmente descuido. Agora, cabe à polícia descobrir onde foi o erro, quem cometeu.

 

E falta vontade para isso?

 

Infelizmente, o nosso país é assim. Muita coisa fica escondida, mas cabe a nós torcermos para que, um dia, apareça. Apesar de eu achar que é bem difícil de isso acontecer.

 

Qual o seu sonho no futebol?

 

Voltar a jogar, sem dúvida. Tem dia em que bate uma saudade enorme de estar em campo...

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Entrevista boa e ao mesmo tempo muito triste.

É complicado pensar que, ao mesmo tempo em que o time perde muito sem ele, ele pode ter perdido a grande chance da vida nesse ano.

Espero que volte logo e ainda melhor que antes, monstro técnico e raçudo, que dá gosto de ver, M10.

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