Ir para conteúdo

Arquivado

Este tópico foi arquivado e está fechado para novas respostas.

wrstroebele

História detalhada da fundação do verdão em 1914

Posts Recomendados

O texto abaixo é longo, mas deve ser lido na sua íntegra, para que saibam sobre a origem do Palestra Itália.

O nosso amigo Jota Roberto Christianini - Diretor do Departamento de Acervo Histórico e Memórias da S.E. Palmeiras e conselheiro do clube, enviou o material abaixo, de autoria do amigo e historiador Luciano Pasqualini - da Academia da História Palestra-Itália.

Essa é a verdadeira história da criação do Palestra Itália/Socuedade Esportiva Palmeiras e deve ser difundida junto à coletividade palestrina-palmeirense.

 

S.S. Palestra Itália – Fundação e Origens

Fundação: 26/08/1914

Origens: Em 1914 já havia vários clubes italianos na cidade, que tinha 25% da população vinculada à colônia, mas eram todos varzeanos, clubes de operários que praticavam o futebol pelos campos disponíveis da cidade. Nas ligas da elite paulistana desfilavam apenas equipes representantes dos ingleses [como o Mackenzie], escoceses [scottish Wanderers], alemães [Germânia] e da burguesia da cidade [como Paulistano e São Bento].

Neste ano, a primeira visita de equipes italianas ao Brasil, [simultaneamente a Pró-Vercelli e o Torino], mobilizaram a colônia, que se encheu de orgulho ao ver os campeões italianos enfrentarem imponentemente as equipes da elite paulista.

É neste contexto que uma fagulha fomentou a criação de uma equipe que pudesse representar toda a colônia na cidade de São Paulo, um clube que reunisse os vários atletas de origem italiana, espalhados por clubes da cidade, montando uma equipe competitiva capaz de brigar por títulos contra as grandes equipes da elite.

Luigi Cervo, jovem funcionário administrativo das Indústrias Matarazzo [subordinado do Cav. Ernesto Giuliano, pai do Paschoal Giuliano], jogava futebol pelo S.C.Internacional da capital, e foi o principal idealizador. Após reunir vários amigos em torno da idéia, convenceu outro jovem, Vicente Ragognetti, jornalista, poeta e escritor, a se envolver. Anos depois Ragognetti forneceu um depoimento que retrata este momento da gênese palestrina:

"...mandei uma cartinha ao Fanfulla atacando, sempre tive e tenho a mania de atacar alguém, a colônia italiana de S.Paulo então numerosa e barulhenta, pela sua negligencia em não fundar um time de futebol... no dia seguinte o Luigi Cervo, empregado de categoria das Industrias Matarazzo respondia aceitando a proposta. Liderando um grupo de seus colegas de trabalho, e convocava uma reunião para a fundação..."

Em outro depoimento, desta vez de Luigi Cervo para Walter Pellegrini, então historiador oficial do clube, a história continua:

"...Eu e meus colegas funcionários da Casa Matarazzo fazíamos parte da Sociedade Recreativa e Dramática Bela Estrela, onde reuníamos as nossas famílias para eventos lítero-musicais e também para as danças que, naquela época, eram consideradas como novo gênero de esporte. No entanto, as visitas à nossa capital das equipes de futebol da Pro-Vercelli e Torino, que aqui realizaram onze partidas, repercutiam em todas as classes, provocando, como era natural, o sentimento patriótico da colônia com momentos de empolgação e de entusiasmo transbordante."

A seguir, a transcrição das duas publicações históricas feitas no jornal Fanfulla, representativo da colônia italiana:

14/08/1914 - Carta de Vicente Ragognetti publicada no Fanfulla

“Pela formação de um quadro italiano de futebol em São Paulo.

São Paulo, 13 de Agosto de 1914

Egrégio Sr. Diretor do “Fanfulla”

Uma palavra apenas e, para esta, um cantinho no vosso jornal.

Eis do que se trata:

Alguns conhecidos futebolistas italianos, mas associados a clubes brasileiros, encarregaram-me de escrever-vos acerca de um projeto por eles comentando entre dois goles de café, fazendo-me então compreender a esperança de que tal projeto o vosso jornal se torne portador e propagandista.

Nós temos em São Paulo (afirmam os referidos esportistas) o clube dos alemães, dos ingleses, dos portugueses, dos internacionais, e mesmo dos católicos e dos protestantes. Mas, para um clube que seja exclusivamente de “sportman” italiano, e sendo nossa Colônia a maior do estado, nada se tentou ainda realizar. Futebolistas italianos que jogam bem encontram-se em São Paulo. Por que, de comum acordo, não reunimos os referidos senhores e, assim como temos associações de remo, filodramáticas, mundanas, patrióticas, etc., de estrutura italiana e fundemos um clube de futebol ?

Aí fica a proposta dos futebolistas italianos e com V.S., Sr Diretor, o comentário

(a) Vicente Ragognetti”

19/08/1914 - Anúncio publicado no Fanfulla por Luigi Cervo e amigos

Fanfulla de 19/08/1914, página 5, Seção “Gli Sports”

“Palestra Itália. Foi organizada uma diretoria provisória para a formação de uma sociedade que está denominada Palestra Itália. A Sociedade compreenderá, também, a seção filodramática e dançante, além de uma seção esportiva, objetivando a organização de um time puramente italiano, para jogos de foot-ball. Os aderentes, que até o momento se compõem de estudantes e empregados no comércio, reunir-se-ão hoje às 20 horas, no Salão Alhambra, sito à Rua Marechal Deodoro nº 2, com o fim de eleger a diretoria provisória e para completa formação da Sociedade.”

"Todos os quais desejarem participar da criação de um clube italiano de calcio (futebol) devem comparecer às 20h00 no número 2 da Rua Marechal Deodoro, Salão Alhambra, para a reunião de fundação do Palestra Itália".

A primeira reunião, na quarta-feira 19/08/1914 contou com 37 presenças, e ficou marcada por muita discussão em torno do objetivo primordial do novo clube. Parte dos que estavam presentes queria um clube voltado a atividades artísticas e literárias, enquanto que a maioria queria um clube focado no futebol. Assim, Luigi Cervo e os amigos marcaram nova reunião para a quarta-feira da semana seguinte, 26/08/1914, que acabou ficando formalizada como a data de fundação do clube.

Entre os 46 presentes, fundadores do Palestra Itália, absolutamente nenhum fazia parte ou foi membro do clube Corinthians. Eram em sua grande maioria moradores do Brás e funcionários das Indústiras Matarazzo, entre eles:

§ Cervo, Luigi [eleito Secretário-Geral]

§ Marzo, Luigi Emmanuelle [eleito Vice-Presidente]

§ Ragognetti, Vicente [eleito Diretor Esportivo]

§ Simone, Ezequiel [eleito 1º Presidente]

§ Aulicino, Antonio [eleito vice-secretário]

§ Cileno, Francesco Vicenzo [inspetor de sala]

§ Giangrande, Oreste [eleito revisor de contas]

§ Giannetti, Guido [eleito revisor de contas]

§ Morelli, Francesco [eleito 2º mestre de sala]

§ Nipote, Francisco De Vivo [eleito tesoureiro]

§ Rebucci, Armando [eleito revisor de contas]

§ Silva, Alvaro F. da [eleito 1º mestre de sala]

§ Azevedo, Alfonso de

§ Betti, Delfo

§ Bucciarelli, Amadeo

§ Camargo, Francesco

§ Ciello, Michele A.

§ Del Ciello, Clementino

§ Ferré, Fábio

§ Gallo, Eugenio

§ Gallucci, Antonio

§ Giannetti, Giorgio

§ Giannetti, Giulio

§ Izzo, Adolfo

§ Izzo, Alfredo

§ Izzo, Luigi

§ Lamacchia, Giovanni

§ Lilla, Onofrio

§ Maninni, Battista

§ Médici, Luigi

§ Migliori, Alfredo

§ Mosca, Alfonso

§ Nigro, Giuseppe

§ Pareto, Leonardo

§ Prince, Giuseppe

§ Rizzo, Vicenzo

§ Rosario, Luigi M. F.

§ Romano Filho, Gennaro

§ Romano, Oreste

§ Rossi, Giovanni

§ Russo, Ercole

§ Tavollaro, Michele

§ Vaccari, Aughusto

Numa demonstração clara da diferença da concepção do Palestra Itália desde a sua fundação, em relação aos demais clubes italianos da cidade, e das grandes ambições desde sua origem, é justamente o Baile de apresentação do clube para a sociedade paulistana, realizado em Janeiro de 1915, antes mesmo de sua primeira partida. Um evento luxuosíssimo, no Salão Nobre do Clube Germânia, com decoração especial, coquetel, jantar completo e baile sob o comando de uma grande orquestra. O baile contou ainda com a presença de diversas personalidades paulistanas, todos os expoentes da colônia, com destaque para o Consul Geral, Comendador Pietro Barolli.

Os preparativos, a organização e os convites geraram frutos antes mesmo do Baile, já que uma semana antes, a APSA, liga de elite do futebol paulista, anunciava oficialmente o ingresso do Palestra Itália como filiado da entidade.

 

Jota Roberto

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Excelente tópico, e belo timing, às vésperas do início do ano do nosso centenário. Essa é uma história que, por mais que muitos já conheçam, sempre vale ser recontada. E para aqueles que não a conhecem, essencial à palestrinidade.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites
Guest cruz de savóia

Torino e Pro-Vercelli esses são os dois times que teriam que ser convidados para o jogo inaugural da Arena Allianz Parque isso seria sensacional mais se depender da diretoria e Wtorre quem sabe só lá em 2015.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Bacana, muito legal.

Nós temos história. Muitos, antes de nós, bem antes de nós, fizeram história.

Houve perseguição, repressão, tivemos que mudar de nome.

Mas ninguém sepulta uma ideia, nem cala a manifestação livre de um povo.

Avanti, Palestra!

Scoppia, che la Vittoria è nostra!

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites
Torino e Pro-Vercelli esses são os dois times que teriam que ser convidados para o jogo inaugural da Arena Allianz Parque isso seria sensacional mais se depender da diretoria e Wtorre quem sabe só lá em 2015.

Também acho. Seria muito emocionante.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Otimo tópico.

 

 

Texto maravilhoso, e ainda tem gambá cara de pau falando que nossos fundadores são ex-gambá.

 

 

Pois é, tem muitos gambás que falam isso, mas o próprio historiador oficial dos gambás desmente essa versão.

 

Não conhecem nem a própria história e vem falar da nossa.

 

 

 

 

 

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Ótimo tópico.

 

Tem outro texto que gosto de reler sempre que possível. Postei aqui há um ano e pouco:

 

Passada meia noite, depois de uma longa, barulhenta e violenta discussão, eu saltei em cima de uma cadeira e gritei:

 

‑ Aqui viemos, meu grupo e eu, para fundar uma sociedade de futebol. Futebol entendem? Vocês só falam em clube de danças, de representação de peças teatrais pelos seus <filo dramáticos>, e nem ligam para o futebol. Ou vocês acatam a idéia de tratar TAMBÉM de futebol, ou eu e meu grupo abandonamos o recinto!

 

Éramos moços. O que faz o moço sem violência?

 

Do outro lado do salão, surgiu Luis Cervo, também montado sobre uma cadeira. Irruente e fogoso, o saudoso amigo aderiu <in totums> também ameaçando:

 

‑ Ou vinga a idéia de Ragognetti ou eu e o grupo dos Matarazzo vamos embora!

 

Houve silêncio. No fim depois de vários discursos enrolados e gaguejantes, foi aprovada a idéia unanememente. Faz-se na hora as eleições. Cervo abiscoitou o cargo de secretário Geral e eu o de diretor esportivo.

 

Madrugada. Fomos todos tomar chopp no bar vizinho, cantando, falando, sonhando. Sobretudo, sonhando...

 

Éramos moços... E o moço que não sonha nasceu velho.

 

No Fanfulla, convocados por mim, com a assinatura do Cervo pedíamos a todos os italianos e filhos de italianos que soubessem dar com perícia e arte um chute numa bola que na manhã de domingo se encontrassem no Largo São Bento. Apareceram mais ou menos uns trinta e lá fomos para o longínquo bairro de Vila Mariana, além da estação de Bonde da Light, à procura de um terreno baldio, indicado ao Cervo por um freguês do Matarazzo.

 

Encontramo-lo. Não tinha grama nem paus de gol. Não faltava poeira que se levantava a cada nosso chute falho. Tiramos as roupas e todos, já de calção por baixo, aparecemos em trajes excêntricos de futuros craques. As roupas serviram para substituir os paus de gol, com um tijolo em cima, para não voarem com o soprar da ventania.

 

Iniciamos a peleja. Quinze de um lado, dezoito de outro e lá fomos todos correndo atrás da bola, comprada com um rateio entre o meu grupo, da rua Santa Efigenia, e o grupo do Cervo, empregados do Matarazzo.

 

O vozerio era infernal e contínuo. Eu, com pose de centroavante e capitão do time, era o que mais gritava e menos jogava. No fim, o meu saudoso amigo de infância, Jorge Giannetti (fundador do clube e Sócio nº 1 do Palmeiras, até a sua morte) na ala direita, pegou a bola, parou o jogo, e com a sua inata serenidade, me disse:

 

‑ Ou você pára de berrar e joga futebol, ou eu me retiro com bola e tudo!

 

A pelada, sem tempo algum, ininterruptamente, foi até ao meio dia...

 

26 de agosto de 1914... Éramos moços, quase adolescentes, e gostávamos de sonhar um grande clube para os italianos... São Paulo abandonava as vestimentas de província e tomava a fisionomia de grande cidade... No campo baldio de Vila Mariana, içamos, com fé e entusiasmo, o pavilhão do Palestra Italia, esta Sociedade, que hoje é uma das maiores do mundo...

 

Ave, Palestra Italia! Salve, Sociedade Esportiva Palmeiras!

 

por Vicenzo Ragognetti, um dos fundadores da Societá Sportiva Palestra Italia, em 1968.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Up.... esse vale a pena sempre deixar entre os principais tópicos do fórum. Valew ao amigo que postou.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Dimitrius, esse seu quote valeu o centenário. Espetacular.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

História simplesmente linda!

 

Sugiro um tópico fixo em razão do centenário para contar toda a história do nosso lindo verdão, certamente a história mais linda do Brasil e uma das mais lindas do mundo.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

  • Quem Está Navegando   0 membros estão online

    Nenhum usuário registrado visualizando esta página.

×
×
  • Criar Novo...

Informação Importante

Ao usar o fórum você concorda com nossos Termos de Uso e Política de Privacidade..